ELEGIA
Cattulo de Campos e Patrick Hertzog

Seguem cegos, ébrios
O mito da morte.
Omite, mente…
Esconde onde se perde o sentido.

Errantes, antes errados
Agora cerrados em bando.
A manada que não ama nada.
A urbe ruge!

Acorda mais uma vez,
Há sonhos intensos em ti!

Desfila ao pódio, destila o ódio.
Medalhas de honra ao mórbido,
Mortalhas envolvem o mérito.
A brasa, já fria, abraça um povo vil.
Que marcha e mancha.
Que marca e mata.

A pátria, o mérito
Armada, mórbido
Brasil de poucos
Por cima de um próprio deus
De todos.

Acorda mais uma vez,
Há sonhos intensos em ti!

Sem glórias no passado,
Sem paz no futuro,
Te deitas, eternamente
Em leito esplêndido.

COR DA MATA
Cattulo de Campos e Felipy Camargo

Na mata verde, azul, dourada
Corre a ave avermelhada
Ela há de perceber
Que a flor que nasce afastada
É perto, mas isolada
Ela demora a crescer.

No fundo da mata virgem
Se matam sacis, se afogam Iaras.
Mas sobrevive a memória
Dos ancestrais, também das queimadas.

Presságios incertos
Visões de um futuro
Futuro negro ou bismuto
Que canta alegremente
Ou chora, inutilmente
Sobre um solo vivo ou pobre

João trás Maria no cangote
Mesmo não sendo forte
Tem que fugir, escapar
Pois da bruxa que queimaram
Duvidam da morte
Ela pode ressuscitar!
E Tiê-sangues correm loucos
Perseguidos por araras
Doidas, humanizadas
E quem ri é o caçador
Que vê a luta e a matança
E espera sua janta (e entra nessa dança)

Ao invés de armas, trás um cetro
De ébano e folhas
Pois tem a arma mais mortal:
Suas próprias escolhas!

(Anda, corre, salta
Dança, brinca, cria, gira,
Pira, vira, viva, luta,
Vença, canta, toca
Vota, pensa.
Faça, cura, salva
Vida, muda, alma,
Fala, Zaca grava!
Viva, luta, vença,
Canta, toca,
Pensa, vota!)

ARUNDAIA
Cattulo de Campos e Patrick Hertzog

É a mistura do repente, do baião e do fandango
Embolando o maçambique na milonga, capoeira e no calango
Esse cordel trovadoresco, que é uma trova numa corda pendurada
De zabumba, no pique do repique, de repente, num reponte repentino Chamamé tá me chamando.

É a toada, atuada, destronada e entoada
Maracatu, maraca eu, maraca vós, maraca todos nós
Essa viola que dá moda, fervilhando na cantiga
Frivolada de um frevo, quicumbado no bumbá
Caprichoso, Garantido, caprichado galanteio, milongueiro.

É a ciranda cirandada, no terreiro do caboclo cancioneiro
É o presépio sertanejo, de quadrilha do caipira, pira, pora
Pula fogueira no divino, canta coco na moenda, Curupira, Boto, Cuca brincam com Uirapurú
Procissão de São João, João de barro, cuia e mala de garupa.

Ô Preto Velho, ô Boitatá, ei Toquinho, ei Villa Lobos
Ei Iemanjá, ei Pisadeira, ei Chiquinha, ei Iara
Lá vem o Chico mais o Nico, o Bilora e os Ramil
Foliando, Caradípia vem dançando o carnaval
Vem Vinícius, o poeta, dando o tom para o Jobim, que faz graça nova: a bossa!

Arundaia Brazulenha, Arundenha Brazulaia
É o repente abaionado
Na maciota e na ladaia

Na maciota e na ladaia
Tem baião nesse repente
Arundaia Brazulenha, Arundenha Brazulaia

Dois poema na guaiaca
Três poema na garupa
Minha pexera e seis barão:óia que coisa maluca

Óia que coisa maluca
Dois camelo na bituca
Um paiero de patrão e as ideia aqui na cuca

Arundaia Brazulenha, Arundenha Brazulaia
É o repente abaionado
Na maciota e na ladaia

Na maciota e na ladaia
Tem baião nesse repente
Arundaia Brazulenha, Arundenha Brazulaia


Ei criolo, ei Boldrim, ei Bethânia, ei Takai
Vem Cecília, vem Ziraldo, a Laerte e o Maurício
Vem Neguin do Pastoreio e também da Beija-Flor, vem Matinta, vem Xangô
Vem pandeiro e o tambor, Vinhocasa vem também
Lua livre, céu brilhando.

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